domingo, 26 de abril de 2015

Sustentabilidade para a bioenergia

Imagem: http://www.publicdomainpictures.net/

Foi lançado no dia 14 de abril na sede da FAPESP o relatório Bioenergy & Sustainability: Bridging the Gaps, resultado de análises sobre a sustentabilidade da produção e do uso da bioenergia desenvolvidas nos últimos dois anos por 137 especialistas de 24 países e 82 instituições.

Os tópicos investigados incluem o uso da terra, fontes de biomassa para bioenergia, integração com a agricultura e silvicultura, água e solo, emissões de gases de efeito estufa, impacto dos biocombustíveis sobre a biodiversidade e os serviços ambientais, assim como questões sociais e econômicas.

Entre as conclusões do estudo, destaca-se que os sistemas de produção de bioenergia com base em práticas sustentáveis ​​podem ajudar a compensar as emissões de gases de efeito estufa resultantes de mudanças de uso da terra ou perda de biodiversidade. As tecnologias e procedimentos compreendem combinações de diferentes matérias-primas, uso de co-produtos, integração da bioenergia com a agricultura, intensificação das pastagens (áreas menores para os rebanhos), zoneamento agro-ecológico, planejamento da paisagem, melhorias na produtividade e outras práticas de gestão da terra adaptadas às condições locais.

Os autores também afirmam que há terras suficientes disponíveis em todo o mundo para a expansão do cultivo de biomassa, sendo a maior parte na América Latina e na África, e que a utilização dessas áreas para a produção de bioenergia não representaria uma ameaça para a segurança alimentar e biodiversidade sob certas condições. Além disso, apresentam evidências de que as tecnologias de melhoria do solo, integração da cadeia de produção e uso de subprodutos de bioenergia em áreas rurais pobres poderia impulsionar o desempenho econômico, melhorar a qualidade dos alimentos, reduzir a poluição e criar empregos.

O trabalho foi coordenado por cientistas ligados a programas de pesquisa da FAPESP em Bioenergia (BIOEN), Mudança Global do Clima (RPGCC), e da Biodiversidade (BIOTA), e teve apoio da FAPESP e do Comitê Científico sobre Problemas do Meio Ambiente (SCOPE), uma organização internacional não governamental. O relatório completo pode ser baixado gratuitamente neste link: http://bioenfapesp.org/scopebioenergy/index.php/chapters

Enquanto isso, na Holanda

Já que o tema deste blog são as controvérsias, ressalto que na mesma semana do lançamento da publicação na FAPESP, aconteceu na Universidade de Tecnologia de Eindhoven, na Holanda, a conferência Biofuels and (ir)responsible innovation, da qual participei apresentando um levantamento histórico do caso brasileiro. Foram apresentados trabalhos e ministradas palestras destacando-se aspectos controversos, promessas e perigos da produção de biocombustíveis para a sustentabilidade, bem como o papel das inovações para promover o desenvolvimento sustentável.

Os estudos apresentados envolveram biocombustíveis de origens diversas (como jatrofa, cana-de-açúcar, soja e palma) produzidos em vários locais, como Reino Unido, Guatemala, Brasil, Turquia, Vietnam, Benin, Burkina Faso, Senegal, Mali, Colômbia e Índia. Temas transversais também foram discutidos. Uma controvérsia muito presente nas discussões do evento foi a que trata da segurança alimentar, expressa na competição entre alimentos e biocombustíveis, em diversos países. De maneira geral, apesar das especificidades de cada local, os temas controversos são recorrentes, incluindo, além da segurança alimentar, discussões sobre as emissões de GEE, certificações, biodiversidade, impactos sociais, entre outros.

No que tange às particularidades locais, as avaliações sobre resultados da produção dos biocombustíveis na sustentabilidade e formas de melhorar esses resultados devem considerar os contextos específicos, características das biomassas e ensinamentos da evolução histórica. A multidisciplinaridade dos participantes e a variedade de aspectos considerados indicaram a importância da união de conhecimentos de diferentes áreas para pensar o tema e soluções pertinentes. Observou-se que o diálogo entre profissionais com diferentes formações deve ser exercitado de forma cooperativa, tal como foi proposto pelos organizadores do evento, em uma atividade realizada em grupos.

Durante o evento, a palestrante Janske van Eijck distribuiu exemplares de seu livro Socio-Economic Impacts of Biofuels in Developing Countries, que pode ser obtido em versão eletrônica neste link. O livro abrange um amplo conjunto de países e tipos de biocombustíveis, e aponta rumos para as ações e pesquisas na área.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Etanol 2G: sucesso para quando?

Imagem gratuita: http://pixabay.com

As discussões recentes em torno do etanol de segunda geração versam principalmente sobre sua capacidade de atender a demandas por um combustível de custo atrativo e de caráter sustentável. A edição de dezembro de 2014 da revista CanaOnline traz a reportagem de capa Etanol muito mais verde!, que destaca como o etanol celulósico é ambientalmente mais performático que o etanol de cana-de-açúcar e mais rentável quando produzido de forma integrada à produção de primeira geração.

O exemplo de destaque é a usina Costa Pinto, em Piracicaba, primeira planta de etanol 2G do Grupo Raízen (formado pela fusão entre o conglomerado brasileiro Cosan e a empresa anglo-holandesa Shell). A matéria-prima utilizada no momento é a palha e o bagaço da cana, mas futuramente poderá utilizar biomassa de milho, trigo, cavado de madeira e eucalipto. De acordo com a reportagem, uma planta de etanol 2G possui pegada de carbono 15 vezes menor que uma planta de etanol 1G. 

Na semana passada, a Agência Estado publicou notícia veiculada no portal novaCana informando que o Banco Nacional de Desenvolvimento e Econômico e Social (BNDES) divulgou um estudo em que mostra que o custo de produção do etanol 2G, feito de palha e bagaço de cana, ficará abaixo do 1G até 2020. As estimativas para daqui a cinco anos são de que os valores atuais, próximos de R$ 1,50 (2G) e R$ 1,10 (1G), caiam para valores entre R$ 0,70 e R$ 0,50 (2G) e R$ 0,90 e R$ 0,70 (1G). Quanto ao rendimento, o 2G pode chegar a 17 mil litros por hectare de cana, contra 6,9 mil litros/ha no caso do 1G.

Durante o seminário Sugar & Ethanol Brazil, realizado pela F.O. Lichts em São Paulo, entre os dias 23 e 25 de março, o gerente de desenvolvimento de negócios da empresa de especialidades químicas Clariant afirmou que o etanol de segunda geração (2G), feito a partir do bagaço e da palha de cana-de-açúcar, tem espaço para crescer no Brasil, tornando o País "um dos maiores do mundo nesse mercado", conforme matéria do Estadão Conteúdo veiculada no Portal Exame.

Assim, o etanol 2G seria a tendência dos biocombustíveis no futuro próximo. Entretanto, matéria publicada ontem no novaCana afirma:
Com uma produção ainda marginal, resultado do início da operação de algumas usinas no Brasil, Estados Unidos e Itália, o etanol celulósico vive um momento delicado. Nota-se, claramente, um ajuste de expectativas sobre os prazos de desenvolvimento do combustível pelo mundo e desânimo em relação às perspectivas de curto e médio prazo.
O texto cita declarações feitas no Sugar & Ethanol Brazil, segundo as quais a tecnologia do etanol 2G ainda está cercada de incertezas e a produção ainda não se viabilizou em larga escala. A planta de etanol 2G da Petrobras, que integraria o grupo de empresas com previsão de inaugurar plantas de etanol 2G em 2015, suspendeu os planos do projeto face à crise institucional decorrente das denúncias de corrupção envolvendo a empresa.

Para discutir o atual mercado do etanol de segunda geração, bem como sua possibilidade de aumentar a produtividade e gerar maiores rendimentos para o setor, o BNDES realizará no dia 7 de abril, no Rio de Janeiro, o seminário de Avaliação do Potencial Competitivo do Etanol 2G no Brasil. Veja a Programação aqui.