segunda-feira, 13 de julho de 2015

Carros elétricos e etanol

Imagem: veículos elétricos Autolib' em Paris.  Por Flávia Gouveia.

Os veículos elétricos têm ganhado mercado nos últimos anos. No Japão, representam 11% da frota, nos Estados Unidos, 4%, e no Brasil, apenas 0,04%, segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) informados pelo portal Uai. De acordo com o portal, além de serem considerados uma alternativa menos poluente que os veículos a combustão, movidos a gasolina, diesel e etanol, o custo de cada quilômetro rodado com um veículo elétrico é menor.

Japão, Estados Unidos, Alemanha, França, Coreia do Sul e China dominam a tecnologia dos veículos elétricos. O Brasil não desenvolve nem produz carros elétricos, apesar de fabricantes de carros elétricos no mercado mundial possuírem plantas no Brasil (que se dedicam a veículos a combustão). É o que explica o pesquisador Edgar Barassa  que defendeu a dissertação de mestrado “Trajetória tecnológica do veículo elétrico: atores, políticas e esforços tecnológicos no Brasil”, pelo Departamento de Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas – em reportagem do Jornal da Unicamp.

A prevalência dos veículos a combustão no Brasil e a ampla infraestrutura de distribuição de combustíveis dificultam a inserção dos veículos elétricos, que requerem eletropostos e baterias eficientes, capazes de conferir uma boa autonomia e vida útil compatível com parâmetros de sustentabilidade. O custo ainda é muito alto, comparado ao de veículos a combustão. Para se ter uma ideia, o veículo híbrido Toyota Prius custa cerca de R$ 90 mil. Ainda assim, o preço caiu consideravelmente: era de R$ 125 mil antes de 2014, quando os híbridos foram incorporados à política setorial do Inovar-Auto – Sistema de Acompanhamento do Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores, que prevê desconto no imposto de importação.

A fabricação de carros elétricos no Brasil ganhou recentemente um incentivo por meio do Projeto de Lei 156/2015, de autoria do deputado federal Roberto de Lucena (PV-SP), que visa à isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) e do Imposto de Importação (II) sobre a comercialização de máquinas, equipamentos, estruturas e outros componentes necessários à fabricação de carros elétricos. O projeto, apresentado em fevereiro deste ano, aguarda a tramitação.

O papel do etanol

Diante do crescimento do mercado de veículos elétricos, como fica o papel do etanol combustível, produzido em larga escala no Brasil? A resposta não é trivial. De acordo com Stella K. Li, presidente da divisão automotiva da BYD (empresa produtora de baterias e veículos elétricos), em entrevista à Folha de S. Paulo de 7 junho de 2014, o carro elétrico é mais sustentável que o movido a etanol. Ela aponta dois problemas relacionados ao etanol: (i) a oscilação de preço decorrente da possibilidade de se transformar a cana também em açúcar e (ii) a característica limpa da energia gerada pelas hidroelétricas no Brasil, o que favorece a sustentabilidade do carro elétrico.

Porém, em 15 de novembro de 2013, o Estadão publicou uma matéria no sentido oposto, tendo como primeiro parágrafo o seguinte texto:
O carro elétrico não é a melhor solução para melhorar o meio ambiente no Brasil - na opinião dos presidentes de duas das maiores fábricas de veículos do Brasil, a Mercedes-Benz e a Fiat. Para eles, o carro a etanol é a mais viável e eficiente alternativa para reduzir a poluição no Brasil.
Os argumentos em defesa do etanol repousam em sua eficiência, infraestrutura adequada e benefícios ambientais. A controvérsia pode ser também observada neste texto de Juan Lourenço, criador do site eco4planet, que apresenta a visão pró-etanol e em seguida argumenta contra.

Entretanto, há quem proponha uma convivência simbiótica entre carro elétrico e etanol no contexto de aumento da demanda do biocombustível no Brasil sem acompanhamento pela oferta. É o que se observa neste artigo do engenheiro Luiz Carlos Porto, diretor técnico da Silva Porto Consultoria Ambiental, publicado em outubro de 2011 no site do escritório de advocacia Brummer. Segundo Luiz Carlos, o carro elétrico tende a ganhar mercado sobre os carros movidos a etanol no Brasil. Porém, ele argumenta que "a eficiência energética das turbinas de geração de energia a etanol é muito maior do que a dos carros. E a eficiência do motor elétrico é muito maior do que a do motor a combustão interna". Assim, o uso do etanol para a geração de energia elétrica poderia ser um aliado na disseminação do carro elétrico no mercado brasileiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário