quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Motores a etanol com melhor desempenho

Um Centro de Pesquisa em Engenharia voltado ao desenvolvimento de motores a combustão movidos a biocombustíveis deverá ser criado por uma parceria entre a FAPESP e a Peugeot Citroën. É o que informa reportagem da Agência FAPESP. O projeto terá atuação de pesquisadores da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto Mauá de Tecnologia e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).

Segundo o coordenador do projeto Waldyr Luiz Ribeiro Gallo, professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, pretende-se projetar conceitualmente, nos próximos quatro anos, um motor dedicado exclusivamente ao etanol, que apresente maior potência e seja mais eficiente do que o motor flex fuel. Ele considera que o motor flex fluel não pode ser otimizado para rodar com etanol porque diminuiria seu desempenho e eficiência ao ser movido a gasolina e vice-versa.

Tenho dúvidas sobre a conveniência de um motor movido estritamente a etanol, sendo que o flex fuel foi lançado justamente para permitir ao consumidor escolher pelo combustível no momento de abastecer. Será que a maior eficiência do motor exclusivamente a etanol é suficiente para que o consumidor venha a preferir comprar um automóvel monocombustível? Não sei se seria essa a ideia, pois por enquanto as ações estão na concepção do novo motor. Além disso, a pesquisa contempla também novas configurações de motores movidos a diferentes biocombustíveis – incluindo veículos híbridos, redução de consumo e de emissões de gases – e os impactos e a viabilidade econômica e ambiental de biocombustíveis. Mas se se deseja lançar com sucesso um novo produto no mercado, não basta tecnologia, eficiência e o apelo a questões ambientais. Conhecer a demanda é fundamental.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Bioetanol combustível brasileiro: economicamente sustentável?

Este mês a Revista ComCiência discute as controvérsias científicas, com textos que exploram o tema em diversas vertentes.
Escrevi um artigo para esta edição a respeito das controvérsias da sustentabilidade do bioetanol combustível brasileiro, da perspectiva econômica.
São muitos os aspectos envolvidos nessas controvérsias e as relações com os demais elementos da sustentabilidade, mas procuro dar uma ideia geral de questões econômicas sobre as quais estudiosos do tema não convergem.
Segue o link para o artigo: http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=92&id=1137

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Novas tecnologias para impulsionar o setor

O setor sucroenergético vem apostando em novas tecnologias para promover sua produtividade e competitividade. Parcerias entre empresas - como Odebrecht, Syngenta, Monsanto e Granbio - e universidades / institutos de pesquisa deverão render frutos que impulsionem o setor fortemente afetado pela crise instalada desde 2008.

Reportagem da revista Pesquisa Fapesp cita exemplos de parcerias e iniciativas, como o melhoramento convencional da cana-de-açúcar, o desenvolvimento de novas variedades e o etanol de segunda geração, com destaque para as ações do CTC e da Granbio.

A exigência de eliminação das queimadas para a colheita da cana no Estado de São Paulo também tem favorecido as pesquisas, como ressalta a reportagem.

"A mecanização acaba exigindo tecnologias inovadoras tanto em equipamentos quanto em novas variedades de cana mais adaptadas ao processo. Algumas das variedades produzidas pela Monsanto, por exemplo, têm como característica a fácil adaptação à colheita mecanizada. Desde 2007, o estado deixou de queimar 5,53 milhões de hectares e de lançar à atmosfera mais de 20,6 milhões de toneladas de poluentes, segundo o governo do estado".

Um grande desafio é a criação de máquinas capazes de colher a cana em terrenos com declividade acima de 12%, um problema comum no Nordeste do País. Gostaria de saber quais são as perspectivas para o lançamento desse tipo de colheitadeira no mercado, quais instituições têm se dedicado a essa atividade etc.

Com relação à crise do setor, o Grupo IDEA noticiou ontem que o número de unidades processadoras de cana-de-açúcar no País caiu de 442 em 2008 para 385.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Biotecnologia canavieira - banco genético

Por ser um organismo híbrido, com um genoma extenso e complexo, a cana-de-açúcar apresenta um grande desafio para o melhoramento genético. A criação de variedades transgênicas tem sido estudada, como já divulgamos neste blog, mas os resultados não são imediatos, com previsões para os próximos anos.

Recentemente, a Agência FAPESP e o Canal Jornal da Bioenergia publicaram matérias sobre a criação de um banco genético brasileiro da cana-de-açúcar.

A matéria da Agência FAPESP, de 29 de julho, destaca a possibilidade de criação de um programa de melhoramento genético da cana-de-açúcar visando melhorar sua produtividade. Entre as ações realizadas no Brasil nos últimos anos estão o Programa BIOEN da FAPESP e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol – um dos INCTs apoiados pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no Estado de São Paulo. Os pesquisadores participantes do programa começaram, nos últimos anos, a desenvolver um banco de dados para armazenamento de informações do genoma da cana-de-açúcar. "Quando for concluído, o banco de dados genéticos da cana-de-açúcar possibilitará, eventualmente, incluir a transgenia (manipulação genética) nos programas de melhoramento da planta", diz o texto de Elton Alisson.

A notícia do Canal Jornal da Bioenergia, publicada em 28 de junho, informa que o Brasil será sede de um novo banco genético de cana, com variedades de todo o mundo. Haverá um consórcio entre entidades e empresas pesquisadoras brasileiras, lideradas pelo IAC, para implantar e manter o banco, tecnicamente chamado de Germoplasma. O banco será importante para superar as limitações de acesso, por pesquisadores da América Latina, a informações dos dois bancos genéticos da cana existentes, um na Índia e outro nos Estados Unidos. Segue trecho da notícia:
"A criação do Germoplasma no Brasil favorecerá os pesquisadores latinos e contribuirá para o desenvolvimento de variedades mais resistentes a doenças e também mais produtivas, pois ele estará aberto para todos", explica [Raúl] Castillo [coordenador da seção de Melhoramento Genético e Germoplasma da International Society of Sugar Cane Technologists]. Marcos Landell, do IAC, destaca que o banco deverá contar com mais de duas mil variedades oriundas de todo o mundo e acredita que o consórcio receberá o apoio dos principais centros de pesquisa e empresas que trabalham com melhoramento genético do país. "Cada centro tem seu foco de pesquisa e pode contribuir muito com suas variedades para o banco genético", ressalta Landell. 
A previsão é que, até em três anos, o novo banco genético entre em funcionamento no Centro de Cana IAC-APTA - Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio Cana, do Instituto Agronômico (IAC), sediado em Ribeirão Preto.
Fiquei em dúvida se as matérias tratam da mesma iniciativa ou não. Alguém aí sabe?

quarta-feira, 17 de julho de 2013

A controversa proibição da cana na Amazônia

No mês passado, o  Blog do Planeta, da Revista Época, publicou uma entrevista com o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) sobre o projeto de lei que libera a produção de cana-de-açúcar na Amazônia, atualmente proibida pelo zoneamento da cana feito em 2009 (veja post neste blog). 

Ele argumenta que não há razão científica para proibir a cana na Amazônia, em áreas antropizadas e ocupadas por pastagens, e reitera que há um preconceito com a cana. Segundo Ribeiro, precisamos de mais áreas para suprir a demanda de etanol. "O projeto não permite o avanço sobre a floresta. Pelo contrário, ele protege a floresta. Ele vai gerar emprego e renda...".

Em sua exposição no Ethanol Summit 2013, painel Sustentabilidade, o pesquisador da Embrapa Eduardo Assad defendeu a substituição de pastos degradados por cana-de-açúcar. "Se isso acontecer, passamos a ter um incremento de carbono no solo de 7 a 10 toneladas de carbono por hectare. São 240 milhões de toneladas de CO2 equivalente, que é praticamente o dobro do que a agricultura se comprometeu, em Copenhagen, a reduzir até 2020". 

Porém, antes de encerrar sua apresentação, Assad ressalta sua posição contrária ao PL de Flexa Ribeiro: "Nos últimos dois meses, tramita o projeto de lei do senador Flexa Ribeiro, que abre a produção do etanol na Amazônia. O zoneamento agroecológico foi feito para fechar a expansão do etanol para a Amazônia, para evitar barreiras não tarifárias. Se passar, é um tiro no pé. Temos que tomar muito cuidado com isso".

Assim, o pesquisador da Embrapa defende que seja mantida a proibição do plantio de cana na Amazônia, determinada pelo zoneamento agroecológico, em função das possíveis barreiras não tarifárias geradas pelo fim da proibição. Vale lembrar que barreiras não tarifárias são mecanismos e instrumentos de política econômica que influenciam o comércio internacional sem o uso de mecanismos tarifários. Assim, os países importadores podem deixar de comprar o etanol e o açúcar brasileiros por serem derivados de cana plantada em área de floresta amazônica.

O texto do PL foi aprovado na Comissão de Meio Ambiente do Senado, mas não seguiu direto para a Câmara porque houve um recurso de última hora do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). Agora a proposta deverá ser votada no plenário do Senado antes de seguir para a Câmara.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Ethanol Summit 2013

Nos dias 27 e 28 de junho, participei do Ethanol Summit 2013, um dos principais eventos do mundo voltados para as energias renováveis, particularmente o etanol e os produtos derivados da cana-de-açúcar. Lançado em 2007 pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), o evento teve diversas atividades e, infelizmente, tive de escolher entre painéis simultâneos de meu interesse.

Dei preferência aos painéis de Sustentabilidade e notei que muitos dos temas controversos sobre o bioetanol - como a segurança alimentar e o trabalho no contexto de mecanização - apareceram, mas foram expostos sem ressaltar os contrapontos que conformam as controvérsias. A posição comum apresentada pelos palestrantes é, como já se esperaria, a favor do bioetanol como um combustível limpo e sustentável.

Para impulsionar a sustentabilidade e a produtividade do etanol, tiveram destaque as novas tecnologias, em especial o etanol de segunda geração, proveniente da celulose do bagaço da cana, bem como de outros resíduos vegetais. O etanol celulósico permitirá aumentar a produção sem que seja necessário expandir a área plantada de cana.

A crítica mais recorrente do evento foi sobre a manutenção artificial dos preços da gasolina no mercado brasileiro. Nesse sentido, questões de natureza regulatória também tiveram destaque, "pois são o que vai garantir a competitividade dos renováveis frente aos fósseis", afirmou Elisabeth Farina, presidente da UNICA.

Preparei uma notícia sobre o evento para o site do AlcScens, acessível em http://www.cpa.unicamp.br/alcscens/news_details.php?id=131#categoria. Fiz também uma notícia sobre as ações do setor sucroenergético para a proteção da onça-parda, predadora de animais menores que se alimentam dos brotos da cana-de-açúcar. Eis o link: http://bit.ly/15jlxEE

Mais notícias sobre o evento: http://www.ethanolsummit.com.br/noticias.php

E aqui algumas notícias e links, relacionados ao evento, que selecionei:

País precisa de mais 100 usinas para dobrar produção de etanol até 2020
http://www.revistacanavieiros.com.br/conteudo/pais-precisa-de-mais100-usinas-para-dobrar-producao-de-etanol-ate2020#.Uc25Ne1n4r8.facebook

Futuro do etanol em discussão
http://www.canalbioenergia.com.br/noticia.php?idNoticia=15923

Setor sucroenergético precisa investir em quatro grandes prioridades
http://www.ideaonline.com.br/clipping/setor-sucroenergetico-precisa-investir-em-quatro-grandes-prioridades.html

News Jornal Cana
http://us5.campaign-archive1.com/?u=b6e2d0fa5b710020207711396&id=7ab0f167b8

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Audiência pública, aquela e outra

Em tempos de manifestações sobre as tarifas dos transportes públicos e outras pautas, gostaria de comentar o tema das audiências públicas (e da participação dos públicos) com foco no tema deste blog, que é o bioetanol.

A audiência pública sobre a proibição das queimadas em Paulínia realizada dia 22 de abril no Supremo Tribunal Federal (STF) contou com 26 expositores: representantes de entidades protetoras do meio ambiente, dos trabalhadores rurais, da agroindústria, do Ministério Público e governos, cada qual com seus argumentos. Veja aqui a relação de expositores da audiência, e aqui, os vídeos do STF.

Em notícia do STF, o ministro Luiz Fux, que convocou a audiência, fala sobre o evento como uma forma de assegurar que o direito não fique dissociado da realidade fática. Fux afirma que “as audiências públicas são um instrumento de participação democrática do povo nas decisões judiciais. Os juízes têm conhecimento jurídico, mas alguns conhecimentos interdisciplinares (nos) escapam...”.

A última informação que tenho é de que Fux iria se reunir com os demais ministros para decidirem, em colegiado, a melhor solução para o setor, que contemple empregados, empregadores e a sociedade. Não tive mais notícias sobre o assunto. Existe algum prazo para a manifestação do governo?

Mais uma

No mês passado, a Agência Senado noticiou a realização de outra audiência pública, esta sobre a produção de combustíveis líquidos e gases (biomassa). O evento, conduzido pelo ex-presidente e senador Fernando Collor (PTB-AL), fez parte do primeiro ciclo de debates Energia e Desenvolvimento do Brasil, promovido pela Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI), e constituiu o oitavo painel do tema Investimento e Gestão: desatando o nó logístico do país.

Intitulada "Produção de etanol precisa ser alvo de políticas públicas, diz pesquisador", a notícia comenta a participação de Manoel Regis Leal, coordenador do Programa de Sustentabilidade do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol, que destaca a necessidade de adaptação das políticas públicas para a produção de etanol, bem como de uma negociação séria entre o governo e o setor sucroalcooleiro para a definição de metas de produção. A notícia cita também o pleito de Gonçalo Pereira, vice-presidente de Tecnologia da empresa Granbio e professor da Unicamp, para que o Brasil avance na área regulatória, visto que o País teria uma regulação muito defensiva e, ao mesmo tempo, recursos de enorme eficiência. Aborda ainda a participação do gerente-executivo da Price Waterhouse Coopers (PWC), Ernesto Cavasin Neto, e do senador Inácio Arruda (PC do B-CE).

Gostaria de indagar sobre a "publicidade" das audiências públicas. A notícia sobre esta última audiência saiu no site do Senado e foi reproduzida pelo Canal Jornal da Bioenergia. Não a vi em veículos de mídia de amplo alcance. Imagino que poucas pessoas souberam do evento. E se não sabem, não podem participar. Então... audiência pública, pero no mucho.

Fui ao site do Senado para buscar o material relativo à referida audiência, mas não encontrei na relação disponível sobre as audiências públicas da Comissão de Infra-Estrutura, que já conta com materiais referentes ao segundo ciclo de debates. O que explica isso?

Ainda sobre temas relacionados a energia e combustíveis, a  ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíves) também tem aberto diversas audiências públicas, divulgadas no site da instituição. A ANP foi criada pela Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997, como autarquia especial vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Tem como atribuições promover a regulação, a contratação e a fiscalização das atividades econômicas integrantes da indústria do petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis. E segue a dúvida: como o(s) público(s) participa(m) do debate?

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Economia hídrica

A UNICA noticiou em 22 de abril que a bioeletricidade gerada a partir da cana-de-açúcar poupou 6% da água dos reservatórios em 2012, aproximadamente 1.400 MW médios fornecidos para o Sistema Interligado Nacional (SIN).

Somando-se o valor da bioeletricidade gerada para o consumo do próprio setor sucroenergético como uma compra evitada, a economia total de 2012 seria de 12% da água nos reservatórios da Região Sudeste e Centro-Oeste durante o período seco, informou Zilmar de Souza, gerente de bioeletricidade da UNICA.

A bioeletricidade da cana exportada para a rede elétrica representou 3% do consumo de energia elétrica total no SIN, que foi de 51.175 MW médios. "O total equivale a atender 10% do consumo residencial ou 7% do consumo industrial brasileiros em 2012".

Além da economia hídrica e do atendimento à rede elétrica, a notícia destaca as seguintes vantagens:

  • foram evitadas emissões de 3,6 milhões de toneladas de CO2 em 2012, o equivalente ao resultado do plantio de 25 milhões de árvores nativas extraindo CO2 do ar ao longo de 20 anos;
  • essa fonte de bioeletricidade evita investimentos em transporte e perdas no sistema, por se originar no coração do principal centro de consumo, a Região Centro-Sul do País. 

Esses argumentos favorecem o bioetanol no que concerne a sua sustentabilidade ambiental e econômica. Há argumentos contrários, mas não será a UNICA a divulgá-los.

Estatísticas do setor sucroenergético

O portal novaCana.com lançou em 13 de maio uma plataforma de dados estatísticos do setor sucroenergético, "com centenas de planilhas online interativas e gráficos pré-formatados que podem ser refinados e criados automaticamente, de acordo com o interesse e a necessidade específica de quem está acessando".

Eles disponibilizam neste link acesso a alguns dados. Naveguei um pouco e tive dificuldade de ver quais são as fontes dos dados ali apresentados e as metodologias...

Conforme informa o portal, os dados disponíveis com livre acesso mostram apenas os anos de 1997 a 2002. "Os dados mais atuais foram propositalmente removidos e estão disponíveis apenas para assinantes".

Como doutoranda, gostaria que os dados completos fossem disponibilizados para fins de pesquisa. Fica a sugestão à equipe do novaCana.com!

terça-feira, 21 de maio de 2013

Plantio de cana na Amazônia Legal

Foi aprovado pela Comissão de Meio Ambiente do Senado, em 14 de maio, o plantio de cana-de-açúcar em áreas desmatadas da Amazônia Legal, com vistas a ampliar a produção de bioetanol. O projeto, proposto pelo senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), prevê também o plantio da cana nos biomas cerrado e campos gerais da Amazônia, além das terras desmatadas. Com cinco votos favoráveis, dois contrários e uma abstenção*, o projeto pode seguir diretamente para a Câmara, sem passar por votação pelo plenário do Senado, caso não haja recurso de pelo menos nove senadores.

O projeto determina que o plantio considere as normas do Código Florestal, aprovado em 2012, e observe critérios de sustentabilidade, como a proteção ao meio ambiente, a conservação da biodiversidade, o uso de tecnologia apropriada e a ocupação prioritária de áreas degradadas ou de pastagens. Porém, não fixa regras para fiscalização ou punições a quem desrespeitar tais determinações. "A única regulamentação mencionada no projeto é para a concessão de crédito rural e agroindustrial para o cultivo da cana, o que deve ser feito após a sua aprovação", informa notícia do jornal Valor Econômico.

A decisão tem sido combatida por diversos grupos (ambientalistas, políticos e sociedade em geral). O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) posicionou-se contra o projeto, defendendo que a proibição da cultura canavieira na região amazônica, prevista no zoneamento agroecológico feito pela Embrapa, deve ser mantida. Na mesma linha, contra o projeto, está também a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que publicou em 17 de maio uma coluna no jornal Folha de S. Paulo sobre o assunto. Marina Silva chama a atenção para a aprovação do projeto na mesma semana em que saiu a notícia de que o carbono na atmosfera atingiu a marca crítica de 400 ppm. E é incisiva em suas críticas: "As decisões sobre o desenvolvimento do país vão sendo tomadas, no governo e no Parlamento, sem estudos ou pesquisas, sem consulta nem participação, para conservar poderes oligárquicos".

Eis uma grande controvérsia da sustentabilidade do bioetanol. Vamos ver no que vai dar...


*Os senadores Ivo Cassol (PP-RO), Valdir Raupp (PMDB-RO), Ataídes Oliveira (PSDB-TO), Cícero Lucena (PSDB-PB) e Acir Gurgacz (PDT-RO) votaram a favor. Os senadores Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) e Ana Rita (PT-ES) votaram contra, enquanto a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) se absteve.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Herbicida e câncer

De acordo com reportagem especial da Agência Fapesp, publicada em 22 de abril, estudo da Unesp mostra como o herbicida diuron usado nas culturas de soja e cana é cancerígeno para ratos.

A matéria ressalta que a extrapolação dos resultados de experimentos com animais de laboratório deve ser feita de modo criterioso e a relevância dos resultados, assumida com cautela. "De qualquer forma, as descobertas constituem um alerta importante para autoridades sanitárias. E também para os consumidores. Pois, embora de forma ainda incipiente, a preocupação em consumir alimentos livres de resíduos químicos vem aumentando no Brasil".

A dúvida que coloco, além da sugerida pela reportagem, é quanto aos trabalhadores das lavouras, que têm contato com herbicidas por manipulação e não por ingestão. Fica a pergunta: Haveria (e quais seriam os) impactos sobre os trabalhadores?

Bioetanol e prejuízos sociais

Já que o interesse são as controvérsias, para contrapor os argumentos da campanha da Unica (post de 6 de maio, neste blog), coloco aqui links de documentos que associam o bioetanol a fome e pobreza (Agrocombustíveis Industriais Alimentam a Fome e a Pobreza - Cadernos da Via Campesina, Caderno No.1, Novembro de 2009) e à crise econômica mundial (Relatório da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, de 2012).

Esses documentos têm menor alcance público, diferentemente da campanha publicitária.

Sobre a disputa e a convivência da cultura canavieira e de grãos no sul de Goiás (Quirinópolis), segue reportagem do Canal Rural veiculada em 18 de fevereiro de 2013.



segunda-feira, 6 de maio de 2013

Publicidade para o bioetanol


Conforme notícia publicada hoje no site da UNICA, será relançada na televisão e em outros canais de comunicação, a partir de hoje, a campanha de 2012 criada pela agência Borghi/Lowe “Coloca Etanol, o Combustível Completão”, protagonizada pelo ator Lucio Mauro Filho. A entidade informa que a campanha, já no rádio desde 1º de maio, ressalta os impactos positivos do Etanol para a economia e o meio-ambiente, destaca o biocombustível de cana-de-açúcar como opção inteligente e incentiva a escolha do etanol por proprietários de veículos flex, que já representam 57% de todos os veículos leves que circulam no Brasil.

Um resumo dos canais de divulgação da campanha para 2013:

  • canal de vídeos Porta dos Fundos (dois esquetes semanais);
  • principais emissoras de TV aberta;
  • TV a cabo;
  • cinemas;
  • jornais;
  • revistas;
  • outdoors;
  • rádios.

Material:

  • três filmes produzidos para a campanha: “Institucional”, “Escola” e “Mudanças”;
  • vinhetas;
  • jingles;
  • “blitz” em parceria com emissoras de rádio para distribuição de materiais promocionais;
  • ação promocional na rede de cinemas Cinemark;
  • presença na Internet e em redes sociais, particularmente o Facebook;
  • será retomada também a ação da “Bomba Premiada Etanol”, na qual os consumidores adivinham a quantidade de litros abastecidos, recebem brindes e concorrem desta vez a uma moto Flex.

Segundo a UNICA,
Com tecnologia nacional, a produção do etanol gera renda e emprego para mais de um milhão de brasileiros, leva desenvolvimento a mais de mil municípios, contribui para manter o ar mais limpo com significativa redução de emissão de gases causadores do efeito estufa e proporciona relevantes divisas para a balança comercial do País.
As controvérsias aqui não aparecem, mas a exposição do público em geral ao tema tem o seu papel.

Mais informações: www.etanolverde.com.br ou facebook.com/etanolcompletao

Cultivo de cana e vulnerabilidade

No último encontro do projeto AlcScens, realizado em 22 de abril, tivemos a apresentação "Etanol, competitividade e vulnerabilidade territorial no Brasil", de João Humberto Camelini, doutorando do Instituto de Geociências da Unicamp. A apresentação baseou-se no trabalho desenvolvido por João em seu mestrado, cuja hipótese básica pode resumir-se na possibilidade de identificação de relações entre a formação de regiões competitivas para o bioetanol e vulnerabilidade.

Entre os impactos que levam à vulnerabilidade, foram destacados o desmatamento direto e indireto, o assoreamento decorrente do desmatamento, a poluição e a ameaça à biodiversidade causadas pelas queimadas, a contaminação do solo, do ar e da água em função do uso de pesticidas, a compactação do solo pelo maquinário agrícola, fluxos migratórios, condições degradantes de trabalho, especulação e ocupação desordenada, e sobrecarga em serviços públicos, como os atendimentos médicos.

Camelini identifica fatores de vulnerabilidade e a partir deles elabora um mapa de propensão à vulnerabilidade, ao qual, acredito, seria interessante contrapor indicadores sociais, econômicos e ambientais levantados para as áreas críticas.

Aqui o link para a dissertação de mestrado do João Humberto: http://www.cpa.unicamp.br/alcscens/articles/dissertacao_mestrado_camelini.pdf

domingo, 28 de abril de 2013

Incentivos ao setor sucroalcooleiro

As dificuldades dos produtores do setor sucroenergético e as medidas de incentivo do governo anunciadas semana passada repercutiram na mídia especializada, mas também na grande mídia, incluindo a televisão. Os veículos noticiaram a reunião da presidente Dilma com empresários do setor e o pacote de medidas anunciado pelo Ministro da Fazenda Guido Mantega. Em resumo, as medidas do governo são:
  • queda nos juros de financiamentos referentes ao ProRenova para o valor máximo de 5,5%; 
  • programa de financiamento para estocagem;
  • zero de imposto PIS/Cofins (Programa de Integração Social/Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social), tanto na produção quanto na distribuição.
Elenco aqui algumas matérias sobre o assunto, que já pelo título indicam pontos positivos e negativos associados às novas medidas, bem como a ausência de uma relação direta entre os incentivos e reduções do preço do etanol nos postos de combustível.

Jornal Cana / ProCana BrasilDilma anuncia pacote para recuperar etanol brasileiro (23/04/2013);
Nova CanaAs opiniões do governo e da indústria sobre o pacote para o etanol (24/04/2013);
Site da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA): UNICA vê pontos positivos em decisões anunciadas pelo governo, e ressalta importância de busca permanente por medidas de longo prazo (23/04/2013);
Valor EconômicoMedidas do governo incentivam investimento (25/4/2013);
Folha OnlineDilma propõe hoje pacote de incentivos para setor de etanol (22/04/2013); Governo vai reduzir tributo para baratear etanol e forçar queda da gasolina (22/04/2013); Governo zera tributo do etanol, aumenta mistura na gasolina e reduz juro do produtor (23/04/2013); Pacote para setor de etanol não garante redução no preço, diz Dilma (23/04/2013); Análise: Investimentos só retornam com plano de longo prazo para etanol (24/04/2013); Diretor da Unica defende retomada de tributo federal para gasolina (24/04/2013); Leitores criticam incentivos do governo a produtores de etanol (25/04/2013);
Estadão.com.br: Incentivo ao setor sucroalcooleiro (23/04/2013); Incentivo ao etanol (23/04/2013); Competitividade do etanol no longo prazo (24/04/2013); Planejamento de longo prazo é a principal aposta da cadeia do Etanol para o fortalecimento do setor (24/04/2013); Estímulo ao etanol foi insuficiente (24/04/2013); Diretor da Unica defende retomada da Cide para gasolina (24/04/2013); Aníbal cobra incentivo à energia a partir da cana (24/04/2013); Dilma não garante etanol mais barato (24/04/2013); Ajuda tardia e insuficiente (26/04/2013).

O que se observa a partir das notícias é que o setor recebeu incentivos que aliviam as pressões sobre os custos, mas que há ainda incerteza sobre os efeitos do novo pacote sobre os investimentos e sobre os preços dos combustíveis aos consumidores. Satisfeita mesmo com as novas medidas talvez esteja a Petrobras, que tem sido forçada a importar gasolina a preços acima de seu valor de venda e utiliza etanol anidro misturado à gasolina em proporção que aumentará, a partir de 1º de maio, de 20% para 25%.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Etanol x Gasolina: um caso de política?

A reportagem de Felipe Cordeiro para o Informa Economics FNP, intitulada "Sem conseguir competir com a gasolina, etanol clama por políticas públicas" e veiculada pela União dos Produtores de Bioenergia em 9 de abril, mostra o embate sobre a sustentabilidade econômica do bioetanol frente à gasolina. Os atores e seus posicionamentos podem ser resumidos assim:

Os que argumentam que faltam políticas públicas para o bioetanol no Brasil
Márcio Perin, analista de açúcar e energia da Informa Economics FNP: o biocombustível vive uma "crise de rentabilidade", os investimentos são insuficientes.
Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-ministro da Agricultura de 2003 a 2006: "Quem vai investir em um negócio se não sabe se vai dar retorno amanhã?". "Não existe política pública para o biocombustível". "São fundamentais a regulamentação da paridade da gasolina com o etanol e tributação e preços adequados".
Ismael Perina Júnior, presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana): "O preço da cana é formado pelas cotações do açúcar e do etanol. Se considerar apenas os valores do hidratado [utilizado como combustível], há anos a produção dá prejuízo".
Elizabeth Farina, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica): não é possível desvincular o mercado do etanol do da gasolina e o atual cenário internacional favorece o combustível fóssil. "As externalidades do petróleo são negativas, e as nossas, positivas. Hoje, a gasolina é mais barata e ficará ainda mais por causa das novas fontes que serão exploradas". As políticas públicas para o etanol devem criar instrumentos que reconheçam que o biocombustível "gera benefícios líquidos para a sociedade", enquanto o seu concorrente, "custos de meio ambiente e saúde".
Maurilio Biagi Filho, presidente do Grupo Maubisa: a iniciativa deve partir dos produtores de etanol. "Enquanto ele achar que é um `coitadinho´, vai ficar sempre essa conversa de que o governo precisa fazer. O setor que tem que agir, elaborar uma legislação que seja factível e apresentar ao poder público", apontou, recordando-se do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), criado em 1975, do qual foi um dos líderes. Defende uma postura que valorize os benefícios do etanol e evidencie as desvantagens da gasolina. "No mundo inteiro, o combustível fóssil poluente é sobretaxado". O etanol anidro, quando misturado à gasolina, melhora a octanagem desta e a torna menos poluente, reduzindo a emissão de gases tóxicos. "O álcool é um combustível mais nobre do que a gasolina, mas, hoje, só é usado se custar menos de 70% do valor do derivado do petróleo. Nesse ritmo, caminha para virar apenas um aditivo".
 Os que argumentam que não faltam políticas públicas para o bioetanol no Brasil
Luís Eduardo Duque Dutra, assessor da Diretoria Geral da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP): discorda de que as políticas públicas para a produção de etanol sejam inexistentes ou deficitárias. "Desde que a regulamentação do etanol passou para a ANP, em 2011, a entidade garante previsibilidade ao setor e estabelece uma ponte na entressafra, de modo que não haja desabastecimento no Brasil". As dificuldades encontradas pelo setor ocorrem devido a fatores de mercado, que o fazem incapaz de competir com a gasolina. "O primeiro ponto é que entre uma safra e outra do biocombustível existe a entressafra. O petróleo não enfrenta esse problema". "O segundo se relaciona à escala industrial. A maior usina de álcool é projetada para produzir 30 mil barris de gasolina equivalente, enquanto as refinarias são construídas com capacidade de, no mínimo, 100 mil barris", continuou o assessor da ANP. "E a terceira questão é que a tendência do preço da gasolina não é de elevação no mercado internacional. Em 2009, o barril estava a US$ 140. Hoje, está entre US$ 90 e US$ 110". 

E o jornal Folha de S. Paulo noticiou que a presidente Dilma Rousseff reunirá hoje o setor sucroalcooleiro para anunciar os detalhes de um Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura Sucroalcooleira visando a estimular investimentos dos produtores no etanol, aumentar a oferta (e assim baixar o preço) do biocombustível e resgatar sua competitividade em relação à gasolina. São financiamentos ao produtor preparados pelo Ministério da Fazenda, reduções de juros em empréstimos e redução da carga tributária para o setor (o Executivo quer praticamente zerar a cobrança de PIS/Cofins sobre o combustível, hoje equivalente a R$ 0,12 por litro de etanol - ou R$ 48,00 por metro cúbico).

Segundo a notícia, "representantes do setor afirmam que a desoneração, por si só, não resolve o problema da rentabilidade, agravado nos últimos anos. Além de uma política eficiente de crédito, eles esperam que haja ganhos com o aumento da mistura do álcool à gasolina, de 20% para 25%, que entra em vigor em maio".

O aumento da oferta de etanol poderá também levar à redução da importação de gasolina, diz a notícia, beneficiando a Petrobras, que atualmente importa gasolina para atender o mercado. "No primeiro trimestre, o país importou 50 mil barris de gasolina, segundo a empresa. Como os preços no país não variam com a cotação internacional, a Petrobras tem prejuízo com as importações de derivados acima do preço de revenda no mercado interno."

Logo mais saberemos como foi a reunião e quais medidas serão implementadas. Será que os produtores de etanol, a Petrobras e os consumidores de combustíveis ficarão satisfeitos?

sábado, 13 de abril de 2013

Primeira variedade transgênica

O Canal Rural anunciou no dia 3 de abril que a primeira variedade de cana-de-açúcar transgênica deverá ser lançada no mercado em 2017-2018. A coordenadora de biotecnologia do CTC, Sabrina Chabregasa,  informa que são necessários pelo menos 5 ou 6 anos para o desenvolvimento de uma nova variedade. É o caso da inclusão de características mais simples, como a resistência a insetos, que ocorre por meio da introdução de um gene. Para características mais complexas, levam-se cerca de 8 anos de pesquisas e testes até que a nova variedade seja comercializada.

A cana transgênica promete gerar aumentos de produtividade e dos teores de sacarose da cana, além de resistir a condições climáticas adversas, como a seca e o excesso de chuvas em algumas regiões,  e ao ataque de pragas. Países como Brasil (que é o maior produtor mundial de cana), Indonésia, Argentina e China estão na corrida para lançar a primeira variedade de cana-de-açúcar transgênica.

Diante da necessidade de incremento na produção, o mercado pressiona os pesquisadores. No CTC, onde trabalham cerca de cinquenta pessoas ligadas diretamente à pesquisa, os acionistas são o próprio mercado produtor de cana-de-açúcar, que tem pressa para lançar novidades. Os estudos são regulados pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, a CTNBio, e os trabalhos são todos submetidos a aprovação antes de chegar ao mercado.

Essa inovação favorecerá o bioetanol de cana-de-açúcar no que tange ao aspecto econômico, pois deverá levar ao aumento da produtividade. Minha dúvida é sobre o aspecto ambiental. Que impactos ambientais (positivos ou negativos) a cana transgênica traria? Quais análises têm sido feitas para identificar e mensurar esses impactos? Haveria também impactos sociais?

Assista ao vídeo da reportagem:


sexta-feira, 12 de abril de 2013

Patente verde pela sustentabilidade

A Revista da Propriedade Industrial (RPI) publicou em 12 de março o deferimento da patente de um processo de tratamento de resíduos sólidos para geração de energia elétrica baseado na pirólise, que reduz o impacto ambiental se comparado aos processos de combustão e incineração. A pirólise produz gases, como o metano e o hidrogênio, que podem ser encaminhados para um combustor ligado a um gerador, para a produção de energia elétrica. Essa técnica pode ser empregada para resíduos da cana-de-açúcar.

Segundo matéria veiculada pelo DCI, esse tempo de apenas nove meses depois do pedido foi recorde e justifica-se pelo ingresso da invenção no programa Patentes Verdes, que foi criado pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em abril de 2012 com o principal propósito de incentivar a inovação sustentável. Com o novo programa, o tempo de exame das solicitações de patente de invenção nas categorias Energias Alternativas, Conservação de Energia, Gerenciamento de Resíduo, Agricultura e Transporte caiu de 10 para dois anos, no máximo.

A notícia, reproduzida no site Protec, informa que no exterior tem se formado um consenso sobre a importância de novas tecnologias no combate às mudanças climáticas globais: "o governo de Japão, Israel, Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Coreia do Sul criou programas-piloto para acelerar o exame de pedidos de patente direcionados a tecnologias verdes".

Com o exame dessas patentes acelerado, os inventores terão mais um estímulo para realizar esse tipo de inovação e lançar novas técnicas e produtos no mercado. No caso da patente citada, prevê-se a redução de resíduos e a geração de energia elétrica.

Saiba mais sobre o Patentes Verdes aqui.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Espectrometria de massas para biocombustíveis

O método de espectrometria de massas tem auxiliado pesquisas da Embrapa em biocombustíveis, com resultados promissores. É o que informa notícia publicada hoje pela empresa. A matéria destaca que, "nos trabalhos com etanol, os pesquisadores utilizarão a espectrometria de massas para desenvolver metodologias ultrarrápidas e com menor geração de resíduos para caracterizar duas matérias-primas promissoras para produção do combustível a partir de celulose e hemicelulose: o bagaço de cana e o capim-elefante".

A matéria informa que a Embrapa Agroenergia utiliza a espectrometria de massas em sua Central de Análises Químicas e Instrumentais para realizar pesquisas em metabolômica, utilizada para estudo dos produtos do metabolismo de um organismo. Em um dos projetos de pesquisa da empresa, os cientistas a utilizam para identificar as substâncias geradas pelas leveduras durante a produção do etanol a partir de diferentes tipos de açúcares. "Os pesquisadores utilizarão os dados obtidos para definir alvos de melhoramento genético dos microrganismos, de modo a empregá-los de forma eficiente na produção de etanol celulósico (também chamado de segunda geração ou 2G)".

Em março, pesquisadores da Embrapa foram à Alemanha para participar de treinamentos na empresa Bruker – fabricante de equipamentos – e realizar visitas técnicas a unidades do Max Planck Institute, na cidade de Bremen. Eles receberam treinamentos para utilização de equipamento e discutiram metodologias que podem ser aplicadas às pesquisas conduzidas na Embrapa Agroenergia, além da utilização de softwares para processamento de dados. Os recursos da bioinformática permitem analisar e processar muitos dados, como os gerados em estudos focados em metabolômica, que aplicam a espectrometria de massas em amostras com elevado número de compostos.

Os espectrômetros de massas conseguem identificar, caracterizar e quantificar grande variedade de compostos químicos presentes em diferentes materiais. "A principal vantagem da espectrometria de massas é o fato de ser mais sensível e seletiva do que outros métodos. Além disso, não exige grandes quantidades de amostras, podendo trabalhar até com concentrações menores do que as nanomolares. Dessa forma, é mais amigável ambientalmente, já que utiliza menos solventes e reagentes, gerando menos resíduos".

O emprego de espectrômetros de massas, metodologias de pesquisa avançadas e softwares de processamento de dados deverá resultar em maior eficiência na produção de etanol de segunda geração, favorecendo o biocombustível em termos econômicos, e redução do lançamento de resíduos no ambiente, com efeitos positivos do ponto de vista ambiental.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Tecnologia para aumentar a produtividade de processos industriais

A Agência Fapesp publicou hoje matéria sobre uma tecnologia desenvolvida por pesquisadores brasileiros da empresa I.Systems para aumentar a eficiência de linhas de produção em grandes indústrias, com base na lógica Fuzzy. O desenvolvimento, que contou com apoio do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequena Empresa (PIPE), resultou no software Leaf e já está sendo empregado em empresas como Coca Cola, Rhodia e Ajinomoto.

O Leaf roda no sistema operacional Windows, coleta informações muito simples de um processo industrial – classificadas em três níveis: mínimo, médio e máximo – e gera instantaneamente todas as correlações entre essas variáveis. Assim, aumenta a estabilidade dos processos, diminui os custos e melhora a produtividade.

Destaco aqui o emprego dessa tecnologia nas usinas de produção de açúcar e bioenergia Tonon, São Martinho e Pederneiras.
Nas usinas de produção de açúcar e de bioenergia, o sistema é utilizado para estabilizar melhor a geração de vapor das caldeiras. Ao integrar essa função com a geração de energia, é possível que a usina passe a gerar mais energia com a mesma quantidade de biomassa que utilizava anteriormente. 
“Como o software executa o controle multivariável do processo, ele consegue ter uma informação mais global do estado da caldeira, por exemplo, e controlar a geração de energia”, explicou Santiago [Igor Bittencourt Santiago, presidente da I.Systems].
Segundo a reportagem, a I.Systems está avaliando se solicitará a patente da tecnologia no Brasil ou no exterior, ou se trabalhará com segredo industrial nos mercados norte-americano, asiático e europeu. A empresa foi contemplada com o primeiro aporte de investimento do fundo Pitanga de venture capital (capital de risco), criado por fundadores da Natura e do Itaú Unibanco e administrado pelo biólogo Fernando Reinach, ex-diretor da Votorantim Novos Negócios.

Com o aumento da produtividade e da eficiência das usinas, ganha força o argumento favorável ao bioetanol, no que tange o aspecto econômico da controvérsia. Mas seria preciso generalizar o uso dessa tecnologia, que no momento está sendo empregada em  apenas três usinas.

Matriz energética em pauta no Globo Ecologia

Em 23 de junho de 2012, o programa Globo Ecologia, exibido pela Rede Globo, discutiu a matriz energética brasileira. No trecho a seguir, o foco é a geração de bioeletricidade e etanol. O professor Luis Augusto Barbosa Cortez, da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, e o gerente de planejamento da Pedra Agroindustrial S.A., Matheus Biagi Carvalho, são os especialistas entrevistados. Moradores de Sertãozinho também dão depoimentos.


Os combustíveis fósseis são apontados como opção insustentável, e as queimadas, aliadas ao agronegócio, como principais responsáveis pelo agravamento do efeito estufa. A falta de políticas de longo prazo de construção de uma matriz energética limpa no futuro é destacada por Cortez. A usina de Buriti (SP) aparece como exemplo de bom aproveitamento da cana.

O programa mostra ainda vendedores da garapa que utilizam gasolina para mover o motor da máquina que mói a cana. Eles informam que esse combustível confere mais mobilidade do que a energia elétrica e dizem desconhecer a possibilidade de geração de energia pelo bagaço da cana. Mas por que as prefeituras ou mesmo ONGs não lançam um programa para coletar esse bagaço rejeitado pelos garapeiros e encaminhá-lo para a produção de energia elétrica???

No que diz respeito aos efeitos das queimadas, são citados problemas respiratórios, sobretudo em crianças. Para Cortez, a queima da cana não é um problema ambiental muito grave. Ele cita trabalhos científicos que relatam o aumento das doenças respiratórias nos meses de inverno, nas regiões de colheita de cana, mas diz que gostaria de observar possíveis mudanças após o fim das queimadas, para então poder estabelecer uma relação entre causa e efeito.

Como lembra o apresentador Max Fercondini, "no fim das contas, há sempre um custo a pagar pela geração de energia, seja ele na forma ambiental, social ou econômica". Haveria custos que poderíamos pagar continuamente, sem comprometer a sustentabilidade?


sexta-feira, 5 de abril de 2013

Mais máquinas, menos produtividade?

No dia 3 de abril o jornal Valor Econômico publicou três matérias sobre um tema muito controverso envolvendo os aspectos social e econômico da sustentabilidade do bioetanol. Novas relações de trabalho nos canaviais e redução da produtividade foram destacadas como fruto da mecanização das lavouras. Os títulos das matérias são "Mecanização avança, mas cana perde produtividade", "Cortador de cana sobrevive à mecanização" e "Com máquinas, diminui rendimentos de canaviais".

Faço aqui um breve balanço da discussão no contexto das controvérsias.

Situação:

  • Aumento da área de plantio de cana-de-açúcar (7 milhões de hectares no Centro-Sul na safra 2012/13; em 2000, 3,8 milhões de hectares)
  • Aumento da mecanização (colheita 85% mecanizada, no Centro-Sul; em 2000, a colheita era 25% mecanizada)
  • Com a mecanização, produtores com décadas de experiência no setor têm que "reaprender" o manejo da cultura 
  • Uma colheitadeira de cana substitui de 80 a 100 trabalhadores
  • No início da década passada, a colheita manual de cana chegou a demandar 750 mil pessoas em todo o país, 500 mil no Centro-Sul
  • Em 2007, quando se intensificaram as pressões ambientais no Centro-Sul, o número de cortadores na região já havia recuado para 284 mil
  • No Nordeste, os canaviais estão em áreas mais montanhosas, a mecanização é ínfima e o quadro não mudou muito
  • O Nordeste é responsável por 10% da produção brasileira de cana e emprega cerca de 330 mil trabalhadores na atividade

Controvérsia social:

  • A maior parte da mão-de-obra liberada pelo setor, não qualificada, foi absorvida pela construção civil (José Giacomo Baccarin, professor do departamento de Economia Rural da Unesp de Jaboticabal/SP)
  • Dos 80 mil cortadores que as 190 associadas da UNICA empregavam em 2007, 22,7 mil foram qualificados para novas tarefas, principalmente na própria indústria da cana, como operadores de máquinas, mecânicos etc. (UNICA - representante das usinas do Centro-Sul)
  • Mesmo em unidades com colheita e plantio 100% mecanizados, há atividades de campo que justificam a manutenção de trabalhadores (carpir o mato, limpar a terra e abrir fileiras de cana que serão colhidas em seguida pelas máquinas, colher cana plantada nas curvas onde a máquina não alcança)
  • Ainda há usinas e fornecedores de cana que não assinaram o protocolo agroambiental que antecipa o fim das queimadas para 2014 (a lei determina o prazo de 2017 para eliminação das queimadas em áreas mecanizáveis). Elas ateiam fogo nos canaviais, e contratam mais cortadores.

Controvérsia econômica:

  • As usinas e fornecedores de cana investiram R$ 14 bilhões para mecanizar a colheita nos últimos cinco anos
  • A produtividade dos canaviais caiu de 85 para 70 ton/ha nos últimos três a quatro anos, sendo 8 a 10 ton/ha em razão da mecanização e a diferença, efeito do clima (João Guilherme Iglézias, diretor da Agroterenas, uma das maiores fornecedoras de cana para usinas) 
  • Quando uma máquina de colher cana (com peso de 20 toneladas e custo médio de R$ 900 mil) quebra, a usina deixa de colher 500 toneladas de cana por dia 
  • Agora surgem variedades de cana mais adaptadas às máquinas (as que "ficam mais em pé" e brotam melhor sob a palha) (João Guilherme Iglézias)
  • o setor testa técnicas para reduzir a compactação do solo provocada pelas máquinas e reduzir as impurezas trazidas pela colheitadeira para dentro da usina
  • Os fornecedores de menor porte estão descapitalizados para investir em máquinas
  • A concentração de açúcar na cana (ATR - Açúcar Total Recuperável) caiu nos últimos anos na região com as melhores condições de clima e solo para a cultura (Ribeirão Preto, Sertãozinho etc). Na safra 2012/13, a concentração de ATR caiu a 138 kg/ton, sendo que o desempenho médio do ATR na região era de 145 kg/ton, com picos até acima de 160 kg/ton. (Luiz Carlos Tasso Júnior, produtor e diretor da Canaoeste, associação que representa 2,8 mil fornecedores de cana em 80 municípios)
  • Retomar os níveis históricos só seria possível com um avanço significativo na genética da planta (Luiz Carlos Tasso Júnior) 

Ao que parece, em termos econômicos, a mecanização teve impactos negativos no presente e deverá se justificar a partir dos desenvolvimentos tecnológicos em curso para aumentar a produtividade no futuro. Em termos sociais, o desemprego resultante da mecanização teria contado com atenuantes importantes, como a absorção de trabalhadores (os mais qualificados) para outras funções nas usinas e as contratações (dos menos qualificados) pelo setor de construção civil. Nesse ponto, vejo como fundamental o papel da educação na qualificação dos trabalhadores, e a necessidade de uma economia fortalecida para abrir novos postos de trabalho. É aí que as controvérsias do bioetanol têm efeitos sobre o público em geral, incluindo você e eu.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Cinzas de cana para fazer concreto

O Correio do Estado (Campo Grande/MS) publicou em 30 de março notícia sobre o aproveitamento das cinzas de caldeira resultantes da queima de bagaço de cana-de-açúcar nas usinas para fazer o chamado microconcreto, a ser empregado na construção civil.

A tecnologia foi desenvolvida em um projeto coordenado pela professora Maria Aparecida Garcia Tommaselli, da Universidade da Grande Dourados (UFGD), e pelos professores Antônio Zanfolim e Aguinaldo Alves Lenine, da Universidade de Mato Grosso do Sul (UFMS). O trabalho ganhou o Prêmio Odebrecht para o Desenvolvimento Sustentável em 2012.

Seguem trechos selecionados da matéria:
"A pesquisa (...) avaliou a resistência à compressão do microconcreto e também sua durabilidade quando submetido a ambiente agressivo, testando a proteção dele ao aço em seu interior. Outros testes estão sendo realizados, para estimar a durabilidade de uma estrutura construída com esse material." 
"Os resultados iniciais da utilização da cinza mostraram que o novo concreto apresenta maior resistência mecânica, comparado ao concreto convencional. É uma tecnologia vantajosa para o setor de construção civil, que atenderia também as agroindústrias de cana, que poderão dar uma destinação correta para as cinzas das caldeiras. 
Esta inovação vem reduzir o consumo de areia na construção civil que tem um forte impacto ambiental, pois altera a paisagem natural e pode afetar especialmente rios e bacias hidrográficas inteiras."
Assim, caso essa nova tecnologia se afirme e se dissemine, deverá ocorrer uma redução dos impactos ambientais tanto causados pelo setor ligado à cana como pelo setor da construção civil. Resta saber se realmente vingará.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Queimadas nos canaviais

No dia 22 de abril ocorrerá uma audiência pública no STF sobre queimadas nos canaviais, por convocação do ministro do STF Luiz Fux. As queimadas estão entre os temas controversos envolvendo o bioetanol no Brasil. Um resumo do evento:

  • Expositores (ou atores da controvérsia): serão 25 expositores representando produtores de cana, usineiros do setor sucroenergético, autoridades da área de saúde e meio-ambiente, e o poder público. Comparecerão entidades como a Agência Nacional de Águas (ANA), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Ministério do Meio Ambiente, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a Associação Brasileira de Entidades Estaduais do Meio Ambiente (Abema), o Centro de Tecnologia Canavieira S/A (CTC) e a Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana). Cada um terá 10 minutos para palestrar. 
  • Razão: um recurso do governo paulista contra lei do município de Paulínia que proíbe as queimadas para a colheita da cana.
  • Posições: o Estado, apoiado pelo Sifaesp (Sindicado da Indústria da Fabricação do Álcool do Estado de São Paulo), diz que a proibição das queimadas prejudica a colheita da cana e contraria a Constituição Estadual. A Câmara Municipal de Paulínia argumenta que a prática de queimadas prejudica a economia local, o meio ambiente e a saúde da população e dos trabalhadores rurais.

Segundo notícia do STF publicada em 26 de março, "ao convocar a audiência pública, o ministro Luiz Fux sustentou que a questão ultrapassa os limites jurídicos, demandando uma abordagem técnica e interdisciplinar. A finalidade das exposições será abordar questões ambientais, políticas, econômicas e sociais relativas à proibição do uso da queimada como processo de colheita da cana-de-açúcar".

O STF noticiou a audiência já em novembro do ano passado. “O escopo da audiência é esclarecer, pela participação de especialistas (grifo meu), as inúmeras questões ambientais, políticas, econômicas e sociais relativas à proibição da técnica de colheita da cana-de-açúcar por meio de queimadas”, afirmou o relator no despacho que convocou a audiência.

Ainda sobre o tema das queimadas, a revista Pesquisa FAPESP publicou em 25 de março a matéria "Mecanização da colheita de cana diminui emissão de gases de efeito estufa na atmosfera".

terça-feira, 26 de março de 2013

Segunda geração

O Jornal Nacional veiculou ontem notícia sobre a produção de etanol de segunda geração.
Segundo a reportagem, "a tecnologia é inédita no Brasil. Vantagem para o produtor, que vê a produção aumentar sem novos custos. Vantagem para o consumidor, que pode encontrar combustível mais barato". Assim, essa nova tecnologia parece reforçar os argumentos em defesa da sustentabilidade do bioetanol combustível no Brasil, tanto em termos econômicos como ambientais e sociais. Alguém discorda?
Assista ao vídeo da reportagem:



Aqui um link para a dissertação de mestrado de Oswaldo Godoy Neto, gerente de projetos do CTC e coordenador da pesquisa citada pelo jornal. A pesquisa, com título "Pesquisa Orientada a Resultado: Proposta de um método estruturado para disponibilizar uma nova tecnologia para o mercado - um caso aplicado ao projeto etanol de 2ª geração", foi apresentada à Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas em 2012 e teve como orientador o Prof. Dr. Ricardo Ratner Rochman: http://bit.ly/YArKxQ

segunda-feira, 25 de março de 2013

Certificação Bonsucro

Reproduzindo notícia publicada em 4 de março no site da UNICA, intitulada "Cresce o número de usinas certificadas pelo Bonsucro", seção Sustentabilidade:
Em menos de dois anos, 28 empresas sucroenergéticas, das quais 26 são brasileiras e duas australianas, foram certificadas pelo Bonsucro, iniciativa global que avalia a sustentabilidade dos produtos fabricados a partir da cana. 
“Esse cenário mostra o comprometimento do setor com a agenda da sustentabilidade. Um avanço tão rápido só foi possível graças a uma cultura corporativa já estabelecida nas empresas, assim como um controle estruturado dos processos sobre o tema,” afirma o gerente de Sustentabilidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Luiz Fernando do Amaral. 
Somente em janeiro desse ano, duas usinas brasileiras foram certificadas pela iniciativa: a Rio Claro, em Goiânia, do Grupo Odebrecht Agroindustrial; e uma unidade da Adecoagro em Minas Gerais.
Quase todas as usinas brasileiras certificadas pelo Bonsucro são associadas da UNICA. Juntas, elas somam 574 mil hectares (ha), ou seja, 6% da área de cana plantada no País. Porém, Amaral alerta que é preciso ampliar o envolvimento para que o resultado seja mais efetivo. “Uma certificação como essa só funciona se todos os agentes, do produtor à indústria consumidora, se envolverem profundamente. Infelizmente, até o momento, não temos visto o mesmo nível de comprometimento dos produtores por parte de outros stakeholders, e será fundamental para o processo continuar avançando.”
Com sede em Londres (Inglaterra), o Bonsucro atua como um fórum internacional reunindo produtores, ONGs, traders, redes varejistas, empresas e investidores empenhados no melhoramento contínuo da produção da cana. Ele é reconhecido pela Comissão Européia como uma certificação voluntária que cumpre com os critérios da Diretiva Européia para Energias Renováveis (Diretiva 2009/28/EC). As empresas certificadas têm atestadas as condições sustentáveis em que seus produtos são fabricados, tornando-os aptos a serem comercializados para países integrantes da União Europeia (UE).
Quatro empresas associadas da UNICA fazem parte do Conselho de Diretores do Bonsucro na categoria “industrial”: Bunge, Copersucar, Guarani e Raízen. O gerente de sustentabilidade da UNICA integrou o Conselho do Bonsucro por três anos, durante o período em que foram desenvolvidos os parâmetros que hoje vigoram para a certificação de usinas.
Além das usinas já certificadas pelo Bonsucro, mais 11 possuem outro tipo de certificação, conhecido como cadeia de custódia. Sob essa iniciativa, é atestada a rastreabilidade do produto certificado ao longo da cadeia. São elas Raízen, Braskem da Bahia e do Rio Grande do Sul, Copersucar, CPA Armazéns Gerais, Grupo Sojitz, NSW Sugar Milling Co-operative, Argos Energies, Cargill International e Cargill Agrícola.
As seguintes usinas já foram certificadas pelo Bonsucro:
Angélica - Adecoagro
Monte Alegre - Adecoagro
Alta Mogiana - Alta Mogiana
Sta Elisa - Biosev
Tropical Bioenergia - BP
Moema - Bunge
Frutal - Bunge
Itapagipe - Bunge
Guariroba - Bunge
São Manoel - Copersucar
Santa Adélia - Copersucar
New South Wales Sugar Milling Cooperative 1 - New South Wales (Austrália)
New South Wales Sugar Milling Cooperative 2 - New South Wales (Austrália)
Conquista -  Odebrecht Agroindustrial
Alcidia - Odebrecht Agroindustrial
Rio Claro - Odebrecht Agroindustrial
Maracaí - Raízen
Bom Retiro - Raízen
Costa Pinto - Raízen
Jatai - Raízen
Bonfim - Raízen
Gasa - Raízen
Equipav - Renuka
Iracema - São Martinho
São João Araras -  USJ
Quatá Zilor - Copersucar
Barra Grande de Lençois  Zilor - Copersucar
São José Zilor - Copersucar
Em 2011, a certificação (criada em 2005), tornou-se exigência para as empresas que exportam o biocombustível para a União Europeia. Além de produtores, organizações não-governamentais como a WWF, Ethical Sugar e Solidaridad, e companhias como Cargill, Bacardi Limited, Cadbury Schweppes, BP e Coca-Cola, também compõem a Bonsucro. Para saber mais sobre a Bonsucro, acesse: http://www.bonsucro.com

UNICA no Sigera

O consultor ambiental e de recursos hídricos da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), André Elia Neto, participou do III Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais (Sigera), realizado de 12 a 14 de março pela Sociedade Brasileira dos Especialistas em Resíduos das Produções Agropecuária e Agroindustrial (Sbera) na cidade paulista de São Pedro. No evento, que teve como objetivo incentivar discussões científicas sobre a temática do gerenciamento dos resíduos nas cadeias produtivas, o consultor da UNICA, que apresentou palestra no dia 13, abordou o uso da água e a vinhaça, e indicou a necessidade do fomento de políticas públicas e barateamento de custos para que as tecnologias pesquisadas e desenvolvidas sejam colocadas em prática.

O site da Unica noticiou o evento e a atuação de André Elia Neto. Trechos da notícia (grifos meus):
"O representante da UNICA detalhou o uso de água pelo setor sucroenergético, que reutiliza mais de 90% do recurso usado em seu processo industrial. “No período de seca, as usinas aplicam na lavoura a água residuária, constituída em sua maior parte da água oriunda da própria cana colhida. Isso diminui e muito o percentual do recurso hídrico captado nas redes de abastecimento,” explicou.
A reutilização da vinhaça, resíduo do processo de destilação do etanol como adubo na agroindústria canavieira, que cobre cerca de 40% das necessidades das plantações de cana por adubação mineral, foi também foco da apresentação. Segundo o consultor, o setor é um grande gerador de resíduos orgânicos, os quais, pela natureza e ausência de contaminantes, apresentam alto potencial de fertilizante. “Atualmente, a indústria reaproveita 100% dos resíduos na adubação dos canaviais,” detalhou Elia Neto.
Ele concluiu a palestra examinando desafios tecnológicos e econômicos para o desenvolvimento de práticas de produção mais limpa e a intensificação da valorização da vinhaça, com as tecnologias de biodigestão, para a produção de biogás com fins energéticos e a concentração para aumentar a área de fertirrigação da lavoura, que consiste na técnica de adubação que utiliza a água de irrigação para levar nutrientes ao solo cultivado."
Quando o ator é a entidade que representa o setor, não se observa o problema de uso excessivo de água no processo, tampouco a crítica sobre a nocividade da vinhaça (ver post "Água e bioetanol" neste blog). Ainda assim, nota-se a busca por práticas e tecnologias de produção mais limpa.

Água e bioetanol

Saiu hoje na Agência Fapesp uma reportagem especial que aponta impactos da agricultura e da pecuária sobre a composição química e a biodiversidade dos corpos d'água. Intitulada "Impactos das mudanças no uso da terra em corpos aquáticos", a reportagem de Elton Alisson destaca problemas causados pelas culturas de cana-de-açúcar e soja, assim como pela substituição de florestas por áreas de pastagem. Na causa dessa transformação do uso da terra estão os aumentos populacionais e da demanda de alimentos e energia.

As relações entre o avanço dessas atividades e alterações em rios e lagos são objeto de um estudo realizado por pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo (USP), em parceria a Universidade de Washington, Ecosystem Center e Wood Hole Research Center – nos Estados Unidos –, além da Universidade de Potsdam (Holanda) e University of British Columbia, do Canadá.

Seguem trechos selecionados da reportagem, com foco no nosso assunto, que é a cana e o bioetanol (grifos meus):

"De acordo com Ballester, membro do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, o cultivo da cana-de-açúcar pode causar diversos impactos ambientais. Um deles é provocado pelo uso da vinhaça (subproduto do refino do álcool) como fertilizante para a cultura. A vinhaça é rica em nitrogênio, composto químico que, em excesso na água de rios e lagos, pode favorecer o crescimento de algas. 
Outro problema sério em relação ao cultivo dessa cultura agrícola é a questão da água. “Para produzir 1 litro de álcool combustível a partir da cana-de-açúcar são necessários 1,4 mil litros da água. É uma produção muito cara em termos de água”, disse Ballester. 
Já a fuligem produzida pela queima da cana-de-açúcar durante a colheita, segundo a pesquisadora, contém um tipo de carbono diferente que pode ser assimilado em maior ou menor escala por organismos presentes em um rio, por exemplo. 
Ao se depositar no solo ou em um ecossistema aquático, o material modifica a ciclagem de carbono do meio. “A fuligem da cana acidifica o solo e a água e isso tem consequências para o ecossistema”, disse Ballester durante o Simpósio Japão-Brasil sobre Colaboração Científica. Organizado pela FAPESP e pela Sociedade Japonesa para a Promoção da Ciência (JSPS), o evento foi realizado nos dias 15 e 16 de março, em Tóquio."
[...] 
“A maior parte das áreas de produção de agroenergia não tem água suficiente para manter as culturas com elevada produtividade e será necessário irrigá-las. Isso representa outro problema sério que irá mudar o ciclo da água”, destacou [Ballester]."
As questões levantadas relacionam-se então com (i) a vinhaça como fertilizante, (ii) o elevado consumo de água no processo produtivo do etanol e (iii) a queima da cana, para a colheita. Com relação à queima da cana, vale lembrar que a Lei Estadual 11.241/2002 dispõe sobre a eliminação gradativa da queima da palha de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, onde se concentra o maior número de usinas sucroalcooleiras do país. O prazo para eliminação da prática é 2017, se cumprida a lei.

Para os problemas da vinhaça (que também pode comprometer lençóis freáticos) e do alto consumo de água no processo produtivo, haveria tecnologias novas ou em desenvolvimento que permitam (ao menos) atenuá-los?


sábado, 23 de março de 2013

Variedades de cana do CTC

Ontem tivemos um encontro do projeto AlcScens com Marcos Casagrande, engenheiro de desenvolvimento de produto do Centro de Tecnologia Canavieira, o CTC. Criado em 1969 como Centro de Tecnologia Copersucar, o CTC reestruturou-se em 2004 e se tornou sociedade anônima em 2011. É um ator importante na realização de inovações por meio de programas de melhoramento da cana-de-açúcar, tendo desenvolvido mais de 5 mil variedades em seu banco de germoplasma, localizado em Camamu, na Bahia.

A apresentação de Casagrande focou no desenvolvimento de variedades visando a aumentar a produtividade e, assim, o lucro do produtor agrícola. Isso ocorre por meio do alinhamento de tecnologias, em especial a biotecnologia. No período de 1980 a 2010, a produtividade das variedades de cana do CTC cresceu 70%.  Essas variedades já estão na oitava geração, representada pela série CT 9000.

Casagrande ressaltou a importância do melhoramento genético regionalizado, que adapta as variedades às condições edafoclimáticas das regiões. Ele nos informou que 40% da produção brasileira de cana-de-açúcar estão concentrados em duas variedades produzidas há 30 anos. No entanto, a cana com melhoramento regionalizado oferece rendimentos maiores, pois resiste mais ao estresse hídrico, está apta à mecanização, não floresce, possui maior teor de sacarose, além de um longo período útil de industrialização (PUI) e perfilha abundante.

As variedades de cana regionalizadas pelo CTC para a região do Cerrado foram lançadas em 2012, e podem favorecer a expansão da cultura canavieira nessa região de clima e solo menos favoráveis, comparativamente às condições de regiões produtoras tradicionais do Estado de São Paulo, como Ribeirão Preto. O aumento significativo do lucro do produtor lhe permite pagar os royalties ao CTC e se revela vantajoso para ambos.

Parcerias com outras empresas, como a Bayer e a Basf, também fazem parte dos negócios do CTC, contou Casagrande, que ressaltou também as inovações do centro em áreas fora da genética, como novos sistemas de plantio e colheita mecanizados, no manejo da lavoura, sistemas georreferenciados e modernização do processo industrial.

Entre os problemas elencados, está a complexidade genética da cana-de-açúcar, a concorrência com outras culturas (como beterraba, milho e colza) e a dificuldade de motivar produtores a adaptar suas condições de produção às novas variedades e tecnologias, como a colheita e o plantio mecanizados.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Estreia

Olá! Este blog surgiu no intuito de organizar meus pensamentos sobre assuntos ligados ao bioetanol combustível no Brasil e suas controvérsias, principalmente no que se refere à sustentabilidade. A ideia é torná-lo um repositório de notícias, organizar uma agenda de eventos e provocar reflexões sobre o tema.
E neste post de estreia, trago um texto de João Cabral de Melo Neto (1920-1999), poeta pernambucano que cresceu em engenhos de açúcar (e anos mais tarde percorreria o mundo, com especial ligação à Espanha e sua arte, especialmente ao flamenco!).


                                       O VENTO NO CANAVIAL
                                       João Cabral de Melo Neto


                                       Não se vê no canavial
                                       nenhuma planta com nome,
                                       nenhuma planta Maria,
                                       planta com nome de homem.

                                       É anônimo o canavial,
                                       sem feições como a campina.
                                       É como um mar sem navios,
                                       papel em branco de escrita.

                                       É como um grande lençol
                                       sem dobras e sem bainha,
                                       Penugem de moça ao sol,
                                       roupa lavada estendida.

                                       Contudo há no canavial
                                       oculta fisionomia,
                                       tal no pulso do relógio
                                       há possível melodia,

                                       ou como de um avião
                                       a paisagem se organiza,
                                       ou há finos desenhos nas
                                       pedras da praça vazia.

                                       Se venta no canavial
                                       estendido sob o sol
                                       seu tecido inanimado
                                       faz-se sensível lençol,

                                       se muda em bandeira viva,
                                       de cor verde sobre verde,
                                       com estrelas verdes que
                                       no verde nascem, se perdem.

                                       Não recorda o canavial
                                       então as praças vazias:
                                       não tem, como têm as pedras,
                                       disciplina de milícias.

                                       É solta sua simetria:
                                       como a das ondas na areia
                                       ou as ondas da multidão
                                       lutando na praça cheia.

                                       Então, da praça repleta
                                       é o canavial a imagem:
                                       veem-se as mesmas correntes
                                       que se fazem e desfazem,

                                       voragens que se desatam,
                                       redemoinhos iguais,
                                       estrelas iguais àquelas
                                       que o povo lutando faz.